O MASSACRE DE SÃO BARTOLOMEU
C. H. Spurgeon
Le Massacre de la Saint-Barthélemy, François Dubois, 1572-1584. Musée cantonal des beaux-arts de Lausanne. |
A infame atrocidade perpetrada na véspera de São Bartolomeu, 1572, pelos católicos romanos contra os inofensivos huguenotes ou protestantes da França não deixará de ser lembrada com mais intenso horror até o dia da restituição universal. A frieza dos procedimentos que instigaram tamanha carnificina e as paixões diabólicas que levaram os nobres e estadistas católicos a romperem os limites da humanidade ao liderar o massacre tornam o evento sem paralelo na história dos enormes crimes. Assim, não há sombra de dúvida sobre quem eram os originadores do plano. Os católicos romanos conceberam o mais amargo ódio contra os huguenotes e estavam decididos de que a terra deveria ficar livre deles. Catarina de Médici, cuja inimizade furiosa contra o protestantismo fez dela um motor admirável no terrível desígnio, controlou seu filho, Carlos IX, suficientemente para fazer dele um mero fantoche em suas mãos. Almirante Coligny, um dos mais proeminentes conselheiros do Rei de Navarra, que era então o líder dos huguenotes, foi convidado a comparecer na corte parisiense. Coligiu era o objeto especial do ressentimento católico, e um atentado fracasso foi então feito contra sua vida. A Rainha-mãe, descobrindo que essa parte do seu esquema falhou, expôs ao rei que os huguenotes eram clamorosos por vingança contra os nobres da corte devido ao ataque contra Coligny. Essas exposições tiveram o efeito de amedrontar o rei mente-fraca, que imediatamente autorizou o massacre aos ofensivos protestantes.
Nossa ilustração representa o primeiro ataque dos assassinos católicos nas ruas de Paris. Carlos IX, em seu ato de dar o primeiro sinal atirando com uma arma da janela de seu palácio. Coligny assassinado com sua família, e seu corpo jogado para fora para a multidão. Em todo lugar o clamor era ouvido, “Matem todos os homens deles! Matem os huguenotes!”. As ruas fediam com o sangue de homens, mulheres e crianças. Nenhum indivíduo suspeito de inclinar-se a religião reformada teve a chance de escapar. Enquanto essa cena acontecia, os protestantes de Lyon, Rouen e outras cidades, foram vítimas da fúria selvagem dos católicos. O massacre foi cuidadosamente planejado para ocorrer na mesma hora em várias cidades e em seus subúrbios. Por alguns é suposto que pelo menos 100.000 pessoas morreram. A estimativa dada por Sully de 70.000 tem sido, entretanto, adotada.* É quase certo de que pelo menos 10.000 foram destruídos apenas em Paris e esta estimativa não inclui os 500 que pertenciam a classes maiores. É dito que “as ruas tornaram-se quase intransitáveis, com os cadáveres de homens, mulheres e crianças – uma nova e chocante barricada”.
O feito monstruoso recebeu grande aprovação do Papa e seus cardinais e agradecimentos foram impiedosamente feitos aos céus pelo privilégio distinto rendido a Igreja. A então cabeça da Igreja Inglesa pela lei estabelecida (Rainha Elizabeth) parecia levar o assunto igualmente bem; pois a encontramos recebendo o embaixador francês imediatamente depois e aceitando graciosamente uma carta de amor do Duque de Alençon; e, em alguns meses, prostrou-se como a madrinha do rei francês assassino.
Ao lado desses fatos nós devemos colocar alguns cálculos que mostrarão que o ultraje sem precedentes da véspera de São Bartolomeu são apenas uma parte de uma linha política que a Igreja das Sete Colinas tem conduzido durante seus doze séculos de existência. Mr. D. A. Duodenum, o titular de Bedminster, próximo de Bristol, mencionou recentemente numa reunião público que pelo menos cinquenta milhões** foram morto pela Igreja Romanista. Essa estimativa nos dá o número de mártires anualmente em 40.000, ou mais de 100 por dia pelos estimou-se doze séculos. A Espanha teve especialmente sua parte de responsabilidade nesta iniquidade, pois através de quarenta e cinco julgamentos da Inquisição, entre os anos 1481 e 1808, 31.658 foram queimados vivos, 18.049 foram queimados em efígie e 225.214 foram condenados a galés ou prisões. Não se deve supor que em consequência da aparência respeitável que o catolicismo agora deve ter a natureza do papado mudou. Ele é, e de sua organização deve continuar a ver, ambicioso de supremacia. Até mesmo a Times, que olha para os esquemas de proselitismo dos romanistas com cínica indifierença, acredita que é impossível não reconhecer nas recentes reclamações dos padres e dignitários ingleses “alguma coisa daquela ambição perversa que sempre foi o veneno do catolicismo romano. O poder da Igreja Católica Romana nunca foi puramente religioso, não o é agora e parece decidido que nunca será. Embora ainda abranja metade da Europa em seu domínio espiritual, lamenta a perda de algumas províncias insignificantes na Itália com uma amargura muito mais aguda que a dos duques exilados”. Que essa sempre crescente ambição não descansará satisfeita até que a Inglaterra curvar-se diante da Besta deve ser prontamente crido; e que todos os esforços que agora sendo postos para enfraquecer o progresso do protestantismo neste país tem como seu objetivo central a humilhação de um povo amante da liberdade é um fato claro demais para ser contestado. Para obter seus fins o papado não desprezaria os mais atrozes e abomináveis meios. Se as palavras de nosso Salvador, “pelos frutos vocês os conhecerão”, tem qualquer significância, elas devem ser apropriadamente usadas em relação a essa insidiosa Igreja. Quais tem sido os frutos dessa temível heresia durante o período de seu quase ilimitado domínio, além de opressão espiritual e política assim como a perseguição em suas formas mais grosseiras e múltiplas formas? Olhando as atrocidades dessa Igreja, alguém se sentiria tentado a questionar se seu caráter de estar “embriagada com o sangue dos santos” não é muito suave. A única defesa da Igreja verdadeira de Deus está em Deus. Pela constante pregação de sua Palavra, e pelo erguer da cruz, nós esperamos a chegada do dia em que nenhuma injúria será exigida para denunciar a grosseira impostura que por tanto tempo “fez o povo pecar”.
Publicado em Abril de 1866, em Sword and Trowel. The Spurgeon Archive. Tradução e grifos feitos por mim.
*FÉLICE, Guillaume. (1851). History of the Protestants of France: From the Commencement of the Reformation to the Present Time. E. Walker, New York Public Library, p.217
**Medida absurda e incoerente com a história
Com excelência, Spurgeon expõe a terribilidade do Massacre de São Bartolomeu, ocorrido no dia 24 de agosto e durando mais de dois meses por toda a nação, trazendo a morte inúmeros inocentes huguenotes que resistiram até o fim pelos princípios de sua fé. As estimativas trazidas por ele no último parágrafo são extremamente exageradas, especialmente os cinquenta milhões, contudo os horrores do domínio romano permanecem. A Igreja Romana está manchada com sangue de inocentes e jamais será limpa deste.